Estabelecer ou pré-estabelecer um conceito sobre Deus nos é bem impossível e bem longe do nosso alcance mesmo que a nossa Fé chegue a um limiar altíssimo, pois o seu nome é imensurável.
Em todo o Antigo Testamento a presença do Deus da Vida é bem notável no meio do seu “Povo Oprimido” como um Pai zeloso, misericordioso, cuidando e aperfeiçoando as condutas, alimentando e propiciando o bem estar, dando condições de sobrevivência e até mesmo cumulando de bênçãos e riquezas. Estabelece varias alianças com este povo que a rompe com suas indiferenças, injustiças e opressões contra o outro, pois é no outro que ELE quer ser notado, é no outro que ELE quer ser presente, é no outro que DEUS se faz vida, na Vida do outro. E é no Novo Testamento que em Jesus Cristo Deus se revela, como a Nova e Eterna Aliança, que se perpetua e se mostra face a face. Estabelecer uma relação entre o Deus da primeira aliança e a revelação de Deus na segunda aliança é fazer exatamente uma viagem em todo o Antigo Testamento, como Deus resgata, liberta e transborda de AMOR pela criatura mais perfeita de sua obra criadora, por essa criatura perpetua, sela uma nova Aliança, desta vez não com sangue de cabritos como aconteceu com o seu povo no Egito, mas com o sangue de seu Unigênito Filho.
Mas quando nos perguntamos quem é esse Deus da Vida? São muitas as respostas, mas nenhuma delas é tão eficaz quanto quando falamos que Deus é vida, Deus é Amor.
No Antigo Testamento a Nova aliança é descrita com a longa caminhada do Povo Hebreu, o Deus justo, misericordioso e responsável, está sempre presente, conduzindo, orientando. No Ex 3,12 percebe-se notoriamente a justiça do Deus da Vida, como um chamado de atenção ao zelo pelas coisas principalmente o zelo por si mesmo, ainda diante da gravidade da situação Deus sela uma Aliança com o Homem e a Mulher possibilitando sua restauração através de um Salvador triunfante nascido de uma Mulher. Mesmo assim o homem ainda continua transgredindo e quebrando essa Aliança. Is 56,1 lembra esse pacto de Deus para com o homem e reforça a sua promessa, no momento de grande angústia, de grande aflição, é no exílio que Deus se faz notar, como a dizer EU estou aqui, Eu sou a fonte da Vida, Vida que não se esgota, e ainda vos ofereço a vida eterna através do Redentor que virá. Esse Elo da antiga aliança para com a Nova aliança é bem presente e bem clara no Antigo Testamento. Em Jer 12,1;23,6 Deus é proclamado como o Deus da justiça, o único que defende seu povo. Deus é o Deus dos deuses, o Senhor dos Senhores, que não se deixa corromper, Dt 10,17; mas que sobretudo exerce obras justas sobre o oprimido Sl 103,6; usa sua criatura para revelar sua obra criadora na qual exerce todo poder, Jó 38,39-41; e mesmo com seu poder perscruta todas as coisas , protege e abre todos os caminhos para que a humanidade trilhe com segurança, livre da opressão e do teto dos opressores, Sab 14,3;17,2 . Inúmeras são as citações em todo Antigo Testamento que mostra com clareza que o Deus da Vida é fonte de todas as graças e bênçãos preparadas e bem preparadas por Ele próprio para aqueles que o buscam e o querem como PAI.
Ainda preocupado com a libertação de seus filhos bem amados, não deixa perecer sua promessa amorosa de um Pai que imensuravelmente, incondicionalmente ama sem medida, esse povo que ainda sobre forte opressão é cativo das injustiças sociais espoliados pelos Reis da terra, pelos impérios humanamente constituídos de poder, de um poder centralizado numa minoria onde a maioria é cativa da opressão e da injustiça. O Reino do Deus da Vida não cabe neste contexto, e é este Reino que vem de encontro ao homem através do Novo Testamento, dessa Nova Aliança da qual somos herdeiros em Jesus Cristo , o Messias prometido no Antigo Testamento, o Redentor dos Homens , o Salvador da comunidade divina.
Deus se revela, e revela sua Nova Aliança nas ações de Jesus Cristo pelo Espírito Santo revelação do Pai, e de sua Comunidade Cristã primitiva até os dias atuais – A Igreja, selada e perpetuada pelo sangue do Cordeiro Pascal cuja Páscoa é o Memorial perpetuo de todos os que são filiados por adoção divina no Reino que Deus preparou para seus filhos.
É no Novo Testamento que encontramos todas as possibilidades de redenção; que encontramos o caminho pelo qual podemos trilhar para a liberdade plena.
Nos Evangelhos narrados por seus seguidores Jesus mostra com clareza que a Aliança feita por Deus lá no Jardim do Édem, não pereceu na Cruz, mas foi restabelecida, restaurada, na sua hora chegada de amar até o extremo, pela ressurreição de Cristo. O caminho foi declarado, as porta do Édem que estavam fechadas forma abertas por Jesus Cristo, na capacidade de amar, e nos mostra que a solidariedade, a dignidade fundada na Nova Aliança, e na Instituição da Eucaristia quando se torna efetivamente o Deus da Vida, Mt 26,26-29; Lc 22,15-20, e quando se propões a fazer a vontade do Pai para salvar os cativos, libertar o homem da escravidão, Ele próprio se torna o caminho de salvação, Heb10,5-6; Jo 6,38;7,33; testemunhando pelo testemunho da verdade e concretizando o plano de salvação, pelo seu sangue derramado Jo 4,34; Heb 9,22; At 2,23; cumprindo assim Deus “ tudo o que tinha anunciado de antemão pela boca de todos os profetas: que o Messias havia de padecer” e ressuscitou dentre os mortos e “anunciar uma luz ao povo e aos gentios”. At 3,18;17,2-3;26,22-23
Desta forma Deus se fez e faz presente em toda história da humanidade com sua Eterna Aliança no corpo místico de Cristo como alegre oblação da vida, em prol da vida do ser humano a qual destina todo seu AMOR divino centrados na Trindade Divina. O Caminho traçado por Deus Pai é o seguido pela Igreja de Jesus Cristo que conclama continuar a obra salvífica nas ações comunitárias libertando o homem de toda escravidão, tornando-o livre para a Pátria Celeste, o Novo Édem restaurado por Cristo Jesus e extensivo a todos os cristãos.
Refletindo sobe a pergunta: “porque Deus possui necessidade de se revelar em formas tão distintas?” é uma forma de abrir-se para o homem compreendê-lo melhor, apesar que o mistério incompreensível de Deus, aflige e inquieta o homem. Se não houvesse essa inquietação, essa busca incessante de compreender, de conhecer Deus, de experimentar Deus, e de se deixar experimentar por Ele, a vida do ser humano quanto criatura de Deus não teria sentido, seriamos como os outros animais irracionais, apenas animais, não seriamos seres especiais criados á imagem e semelhança do seu Criador.
Não é que falte em Deus o reconhecimento da criatura, pois toda criatura reconhece o seu Criador, é que o mistério inefável que envolve a Trindade Santa não poderia ser percebida como uma Palavra qualquer, “com banalidade e os limites da vida cotidiana, como uma palavra ao lado de outras palavras” (Rahner), mas uma palavra expressiva, como fatalidade (fatum) cuja expressão de amor nos leva a um destino que nos liberta: DEUS. A força para este reconhecimento vem do ESPÍRITO que Jesus nos deixou. O criador se torna visível nas suas obras e na realização daquele que assumiu as nossas limitações, JESUS CRISTO, e só poderemos reconhecê-los plenamente quando não mais deformarmos a criação divina
Margarida Maria Viana Sales
Teologa/Psicopedagoga
Profa. de Historia