segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

POR QUE, SANGUE E ÁGUA?



Por várias vezes ao refletir o Evangelho escrito por São João nos deparamos com a grande essência da missão de Jesus Cristo em todas as suas dimensões humano-divina, e quão grande é o seu amor pelos homens seja em que circunstâncias este se encontre.
Toca profundamente as inúmeras vezes que Jesus mostra sua complacência e misericórdia e as diversas formas como põe em pratica o amor infinito que é incompreendido em sua maneira de atuar.  Jesus age como pai, irmão e porta-se como amigo zeloso para o bem comum do outro.
Em João podemos perceber isso, quando os fatos acontecem de forma seqüenciada e o que o próprio Cristo utiliza para mostrar esse amor.
Sangue e água  é uma forma de concretizar o mais puro gesto de todos os gestos de amor, imbuído de perdão e misericórdia jamais vista partindo de um homem. Em todos os seus atos, ao confrontar as diversas situações com o ser humano Jesus mostra sua firme doçura e decisão de cumprir a missão destinada pelo Pai, a de resgatar não só um homem mas a humanidade por inteiro.
Em Jo 10, 31 Jesus questiona a atitude de alguns judeus ao querer apedrejá-lo por mostrar, em obras com transparência, o Reino de Deus e ainda por dar-se a conhecer como o Filho de Deus.
Porém ao chegar a hora  de concretizar a glória do Pai na cruz a alma de Jesus se perturba  (Jo 12, 27) pois sabe bem de que morte atroz iria morre, mas sua firmeza, sua esperança, a certeza de que o Pai seria glorificado era muito maior que sua condição humana. Ainda num gesto de pequenez humana ao celebrar a Páscoa com seus discípulos Jesus se doa por inteiro sem ser compreendido, e sob a forma da “água” ao lavar os pés dos discípulos (Jo  13,1-17)  mais uma vez faz o grande apê-lo do despojamento às coisas divinas, e ensina que mesmo sendo mestres temos que nos tornar mais simples e nos doar uns aos outros com todo amor até a última gota de sangue e água. Foi aí que comecei a compreender esse jorrar sangue e água na cruz. A beleza do eterno doar-se  faz com que nos sinta tocados pelos pequenos gestos de Jesus até o mais sublime ato de amor. Sua carne, seu sangue, seu espírito se doou por inteiro até  a última gota de água princípio de toda essência do Reino de Deus. Não é a toa que a água simboliza a vida. Foi aí que compreendi  que Jesus na cruz passou a ser a fonte que jorra água viva, da qual ao bebermos  temos vida eterna. Foi aqui que compreendi o verdadeiro sentido de eternidade me Cristo Jesus, a grande verdade proferida em Jo 15, 1.13.
Porém compreender todo esse gesto de doação  não fica só aqui, vai muito além ao que simples mortais de alma empobrecida do conhecimento de Deus, possa imaginar.
E foi caminhando com Jesus via cruz que me deparei com um homem divino que no maior de todos os gestos de amor  para com o homem e em especial  para comigo ser individual não poupou suas limitações humanas. Que susto ao nos depararmos com tamanho desprendimento, despojamento de suas limitações como homem, como um ser capaz de sentir dores atrozes pelo outro, por amor. E em Jesus esse misero humano como eu que encontrei a mais profunda pergunta ao ver que todos os seus limites humanos se esgotaram: Por que sangue e água? Diante dessa pergunta que vai no mais profundo de minha alma, senti um forte ímpeto não de buscar a resposta mas sim compreender tamanho gesto de amor, capaz de romper todas as células até a ultima gota de sangue em prol de uma liberdade que parece ter sido desnecessária por causa da crueldade humana. Mas se fosse tão desnecessária Ele mesmo teria dito “não” ao Pai, e o Pai teria poupado seu único Filho. O sacramento do batismo está confirmado, sangue e água vai muito além daquilo que possamos imaginar. Neste momento se concretiza a grande efusão do Espírito de Deus para toda a humanidade. Além de corpo e sangue agora o Espírito age em sua total plenitude. É ali na cruz que está todo o mistério de amor e doação  água/ /Espírito – que jorra do templo mais sagrado,  sangue// salvação – vida eterna aos que crêem, concretizado no mais sublime gesto de amor e doação que palavras e sentimentos jamais podem exprimir (Jo 19,1-34).
Está além de nossas limitações a compreensão do maior gesto de amor que toda a humanidade. Nunca se ouviu dizer que outro além de Jesus tenha passado e concretizado tão louvável e gloficado ato de transformação do velho ao novo Adão, do pecado à graça. Sangue e água que jorra de seu corpo já inerte pela morte é realmente o maior gesto de transubstanciação que só é compreendido se refletirmos mais profundamente no grande Testamento de amor – a Eucaristia, é aqui que além das Palavras está  Real e Transubstancial o nascer de uma nova vida em Cristo Jesus. É a partir dessa nova vida que podemos partilhar o grande mandamento: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”, e compreende o grande sentido do jorrar “Sangue e Água”.

Margarida Maria Viana Sales
Teóloga e Psicopedagoga
Email: margaridavianas @hotmail.com

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