É sobre a ótica dos Evangelhos que se vê as realidades vividas por Jesus Cristo, levando a termo os tempos preparatórios inaugurando aqui na terra o estado de coisas anunciadas pelos oráculos de JAVÉ através dos tempos, em que realidades se conturbavam em meio ao Povo de Deus.
Todo o discurso escatológico de Jesus Cristo está voltado para o contexto social, pastoral, eclesial, que questionava as realidades da época.
Suas palavras, suas atitudes, mesmo em sua imanente forma humana deixa-se revelar aos homens como sendo o próprio Filho de Deus Pai e que estava ali para cumprir sua missão messiânica, testemunhar sua fé viva no Pai que o enviara para salvar a humanidade. da escravidão.
Em Mateus, Marcos e Lucas, seu discurso apocalíptico tem uma conotação, por sua forma e seu conteúdo, mesmo estando inserido numa obra não apocalíptica, tem um elemento essencial: o anúncio da destruição do templo (Mt 24,14; Mc 13, 10; Lc 21 ); a perseguição e testemunho, o julgamento de Jerusalém, a vinda do Filho do Homem; a aproximação do Reino de Deus. Mas antes que tudo acontecesse era preciso que o Evangelho fosse pregado. Jesus exorta e pede vigilância e oração para que se mantenham firmes na Fé. (Lc 22).
Esta dimensão de Fé é que mantém até os dias atuais sua Igreja infalível, marcando uma presença real do Céu na Terra sob a presença atuante da Santíssima Trindade, e toda a corte celeste, com seus anjos e santos como é confessado na Profissão de Fé dos Apóstolos.
É preciso levar em consideração a discussão em torno de Jesus, tendo como base a literatura profética incorporada no AT com muitos temas e motivos sapienciais que despontou a partir de uma perspectiva social dando origem aos textos das Sagradas Escrituras, que nivela tudo como “Palavra de Deus” sem nenhuma distinção, situando-a dentro de um contexto sócio-político, cultural e ideológico.
Para um conhecimento mais profundo dos questionamentos e desafios vivenciados por Jesus Cristo, descrever um pouco de sua realidade profética seguindo os passos narrados pelos Evangelistas: Mateus, Marcos, e Lucas, que mantém um paralelismo sinótico dos acontecimentos vivenciados pela Fé em Deus Pai – Javé, que morre na cruz mas ressuscita dentre os mortos para viver plenamente na Igreja perpetuada ao longo da caminhada da humanidade.
Jesus Cristo, obra prima de Deus – Imagem visível do Pai; Jesus é a Sabedoria de que fala o AT. Tudo foi feito por NELE e por ELE.
Jesus leva a seu termo os tempos preparatórios ( Mc 1,15) e inaugura aqui na terra o estado de coisas anunciadas pelos oráculos proféticos (Mt 11,4ss; Lc 4,7ss). Assim sendo toda Escritura Sagrada perpassa sob o regime da primeira Aliança que obtém sua significação definitiva nos atos realizados por Jesus, nas instituições que estabelece, no próprio drama de perseguição que ELE vive.
Os judeus esperavam os dias do Messias e que nesses dias acontecessem grandes prodígios ou pelo menos iguais aos do êxodo, e ligados a fantásticas vitórias sobre os pagãos ( 1Col 1, 22). Mas Jesus os decepciona em seu aspecto carnal, pois esperavam um grande Rei e se lhes apresenta um Jesus filho de carpinteiro que tem sua preferência: o pobre, o sofrido, o oprimido pelos poderosos. E para que se cumprisse o oráculo de Javé no AT, Jesus inaugura a verdadeira salvação por seus milagres, e fazendo-a presente por seu “êxodo” (Lc 9,31) pelo grande sinal ( Jô 12,33) o da sua morte na cruz. Sinal eficaz que soergue multidões (Lc 29,34) e congrega os dispersos (Jo 11, 52).
A exemplo dos profetas ( Is 29,13) e dos sábios (Si 1,28s; 32,15; 36,20), mas com um vigor inigualável, Jesus pôs a descoberta, as raízes e as conseqüências da hipocrisia , visando especialmente os que constituíam a “intelligentsia”, escribas, fariseus e doutores da Lei, cuja conduta não exprime os pensamentos do coração, tornando-se cegos ( Mt 23,23 e 23,26) que além de enganar aos outros enganavam-se a si próprios por esta cegueira vista por Jesus.
Em uma sociedade corrompida, onde o pacto com a antiga aliança já havia rompido por causa de práticas diversas de desamor, injustiças, infidelidade e desconhecimento de Deus, mediante a toda uma situação de destruição, Jesus veio até o Povo de Deus , primeiro como um gesto de Amor do Pai, depois dos profetas e das promessas do AT, “lembrando-se da misericórdia” (Lc 1,54s; Heb 1,1s). Deus se dá a conhecer (Jo 1,18) , manifesta o seu amor (Rm 8,39), está se realizando a Nova Aliança. Jesus veio por inteiro na sua Missão “ Messiânica” restaurar o que estava corrompido: a Antiga Aliança do Pai. Muitos foram os desafios enfrentados por Jesus, o mundo outra vez está mergulhado nas trevas, mas sendo ELE depositário, revestido da autoridade do Pai, não se intimida ante as autoridades judaicas, reivindica sua qualidade de “Filho do Homem” (Mt 26,63p). Diante da autoridade política, mantém-se sereno, chega a reconhecer a competência de César (Mt 22, 21p), sem fechar os olhos às injustiças dos “representantes da autoridade” (Mt 20, 25; Lc 13,32). Em frente a Pilatos não discute seu poder de origem divina, mas põe em relevo a iniquidade de que é vitima ( Jo 19,11) e reivindica sua própria realeza que não é deste mundo (Jo 18,36).
Jesus não é simplesmente um sábio de grande experiência; é aquele que vive plenamente a bem-aventurança que propõe ( Mt 5,3-12) a plenitude da felicidade cristã, e em Lc 6, 20-26 são acopladas com verificações de desgraça, encominando o valor superior de certas condições de vida. O ser manso e humilde de coração (Mt 11, 29) é realizado em Jesus como sua profunda aspiração de felicidade.
Em Jesus o Céu está presente na terra, é neste Reino que a mensagem do AT desmascara a idolatria, revela a dimensão do ágape e a vida futura descobrindo toda a loucura do cobiçoso (Lc 12,13-15).
Sua pedagogia é a educação da Fé, é no cotidiano que Jesus dá seu ensinamento, confessa que é o Cristo e modifica comportamentos (Mt16,21). Leva seus contemporâneos a identificar sua pessoa e o Reino anunciado ( Mt 4,17), suscita questionamentos a seu respeito através dos ensinamentos dado com autoridade (Mt 7,28s; Mc 1,27) e por seus milagres (Mt8,27; Lc 4,36); ministra seus ensinamentos conforme os ouvintes que o acolhem (Mt 13, 10-13.36), até que tenham compreendido (Mt 13,51). Faz os discípulos realizarem a própria impotência e tira dos pães a lição do entendimento (Mt 14,15-21; 16,8-12), fazendo-os prestar contas do trabalho efetuado (Mc 6,30; Lc 10, 17). quando é reconhecido revela seu mistério, lamentando a falta de Fé dos seus discípulos, mas justifica seu fracasso (Lc17,19s) causado pela inveja do grupinho (Lc 20,24-28), mantendo sua postura de educador, sempre com lições de Amor.
Contudo ELE aparece às massas como um Doutor, ensinando nas sinagogas (Mt 4,23p; Jo 6, 59), no templo (Mt 21,23p; Jo 7,14), por ocasião da festas (Jo 8,20). Cotidianamente (Mt 26,25), fala e age como profeta, ou ainda apresenta-se como interprete autorizado da Lei, sendo que a leva à perfeição (Mt 5,17).
O grande segredo de sua atitude está na diferença dos doutores oficialmente habilitados, só diz o que o Pai lhe ensina ( Jo 8,28) segundo a ordem dos profetas, torna-se dócil ao ensinamento de Deus ( Jo 6,44s). Escatologicamente Jesus sendo o próprio sinal de contradição, quer realiza a aliança em torno dos pobres e pequeninos (Mt 10,42), o elo de união mais precioso que tudo, é a fé n’Ele (At 19,4; Jo 1,7) . Essa Fé que vem de Deus (Mt 11,25p; 16,17) é partilhado pelas nações ( Mt 8, 5-13p; 12, 38- 42p). As profecias do AT se cumprem em Cristo Jesus.
Jesus Cristo é igualmente o novo Templo. Depois de Jeremias (Jr 7,12-15), Jesus profetiza a destruição do edifício magnífico, orgulho de Israel, que se tornou um “antro de ladrões” (Jr 7,11; Mt 21,12) e a restauração em três dias. Em Jo 2,19-22 fala de sua morte e ressurreição, onde o templo é seu próprio corpo que ressuscitará ao terceiro dia de sua paixão e morte na cruz.
Na sua missão profética Jesus além de denunciar os erros de seus contemporâneos, adverte contra os falsos profetas , prevê o final dos tempos ( Mt 24, 5 .11. 24), e a sua vitória sobre o Anticristo e os falsos profetas, que serão atirados ao fogo (Ap 19,20; 20,3.10).
Constata-se que as situações de crise não somente econômica e política são também culturais, provocando uma releitura das promessas que tem a ver com o fim do mundo e o advento do novo mundo, em que as grupos agora marginalizados, oprimidos, perseguidos, “únicos fiéis a Deus”, serão salvos pelo Filho do Homem, que revela o que vai acontecer e que as promessas do Pai realmente se realizarão.
Na busca dessa compreensão, os dias atuais em que o mundo com sua era tecnológica e globalizada, não tem como desconsiderar a visível atuação de Jesus Cristo através do seu Espírito Santo bem atuante na Igreja e em meio ao Povo escolhido de Javé.
Mudaram os tempos, mas as situações são as mesmas:
· As tensões internas da tradição doutrinal da cristologia (generalização antropológica)
· As pesquisas histórica sobre Jesus ( investigação histórica);
· O fato de que é o próprio Jesus histórico que impede a manipulação de significação de Jesus em uma cristologia abstrata e alienante;
Jesus é o testemunho de Fé. Por seu exemplo, se abre a possibilidade de fazer o que ELE fez. A liberdade que Jesus assumiu com autoridade, e a liberdade que ele deu com autoridade estão intimamente unidas a todos os tempos.
Marrgarida Maria Viana Sales
Teologa/Psicopedagoga/Porfa.História
2010
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