terça-feira, 25 de janeiro de 2011

REALIDADE SOCIAL, PASTORAL, ECLESIAL QUE LEVANTAM OS QUESTIONAMENTOS E DESAFIOS À COMPREENSÃO E VIVÊNCIA DA FÉ

       
            É sobre a ótica dos Evangelhos que se vê as realidades vividas por Jesus Cristo,  levando a termo os tempos preparatórios inaugurando aqui na terra o estado de coisas anunciadas pelos oráculos de JAVÉ através dos tempos, em que realidades se conturbavam em meio ao Povo de Deus.
            Todo o discurso escatológico de Jesus Cristo está voltado para o contexto social, pastoral, eclesial, que questionava as realidades da época.
            Suas palavras, suas atitudes, mesmo em sua imanente forma humana deixa-se revelar aos homens como sendo o próprio Filho de Deus Pai e que estava ali para cumprir sua missão messiânica, testemunhar sua fé viva no Pai que o enviara para salvar a humanidade. da escravidão.
            Em Mateus, Marcos e Lucas, seu discurso apocalíptico tem uma conotação, por sua forma e seu conteúdo, mesmo estando inserido numa obra não apocalíptica, tem um elemento essencial: o anúncio da destruição do templo (Mt 24,14; Mc 13, 10; Lc 21 ); a perseguição e testemunho, o julgamento de Jerusalém, a vinda do Filho do Homem; a aproximação do Reino de Deus. Mas antes que tudo acontecesse era preciso que o Evangelho fosse pregado. Jesus exorta e pede vigilância e oração para que se mantenham firmes na Fé. (Lc 22).
        Esta dimensão de Fé  é que   mantém até os dias atuais sua Igreja infalível, marcando uma presença real do Céu na Terra sob a presença atuante da Santíssima Trindade, e toda a corte celeste, com seus anjos e santos como é confessado na Profissão de Fé dos Apóstolos.
            É preciso levar em consideração a discussão em torno de Jesus, tendo como base a  literatura profética incorporada no AT com muitos temas e motivos sapienciais que despontou a partir de uma perspectiva social dando origem aos textos das Sagradas Escrituras, que nivela tudo como “Palavra de Deus” sem nenhuma distinção, situando-a dentro de um contexto sócio-político, cultural e ideológico.
            Para um conhecimento mais profundo dos questionamentos e desafios vivenciados por Jesus Cristo, descrever um pouco de sua realidade profética seguindo os passos narrados pelos Evangelistas: Mateus, Marcos, e Lucas, que mantém um paralelismo sinótico dos acontecimentos vivenciados pela Fé em Deus Pai – Javé, que  morre na cruz mas ressuscita dentre os mortos para viver plenamente na Igreja perpetuada ao longo da caminhada da humanidade.
Jesus Cristo, obra prima de Deus – Imagem visível do Pai; Jesus é a Sabedoria de que fala o AT. Tudo foi feito por NELE e por ELE.
Jesus leva a seu termo os tempos preparatórios ( Mc 1,15) e inaugura aqui na terra o estado de coisas anunciadas pelos oráculos proféticos (Mt 11,4ss; Lc 4,7ss). Assim sendo toda Escritura Sagrada perpassa sob o regime da primeira Aliança que obtém sua significação definitiva nos atos realizados por  Jesus, nas instituições que estabelece, no próprio drama de perseguição que ELE vive.
Os judeus esperavam os dias do Messias  e que  nesses dias acontecessem grandes prodígios ou pelo menos iguais aos do êxodo, e ligados a fantásticas vitórias sobre os pagãos ( 1Col 1, 22). Mas Jesus os decepciona em seu aspecto carnal, pois esperavam um grande Rei e se lhes apresenta um Jesus filho de carpinteiro que tem sua preferência: o pobre, o sofrido, o oprimido pelos poderosos. E para que se cumprisse o oráculo de Javé no AT, Jesus inaugura a verdadeira salvação por seus milagres, e fazendo-a presente por seu “êxodo” (Lc 9,31) pelo grande sinal ( Jô 12,33) o da sua morte na cruz. Sinal eficaz que soergue multidões (Lc 29,34) e congrega os dispersos (Jo 11, 52).
A exemplo dos profetas ( Is 29,13) e dos sábios (Si 1,28s; 32,15; 36,20), mas com um vigor inigualável, Jesus pôs a  descoberta, as raízes e as conseqüências  da hipocrisia , visando especialmente os que constituíam a “intelligentsia”, escribas, fariseus e doutores da Lei, cuja conduta não exprime os pensamentos do coração, tornando-se cegos ( Mt 23,23 e 23,26)  que além de enganar aos outros enganavam-se a si próprios por esta cegueira vista por Jesus.
Em uma sociedade corrompida, onde o pacto com a antiga aliança já havia rompido por causa de práticas diversas de desamor, injustiças, infidelidade e desconhecimento de Deus, mediante a toda uma situação de destruição, Jesus veio até o Povo de Deus , primeiro como um gesto de Amor do Pai, depois dos profetas e das promessas do AT, “lembrando-se da misericórdia” (Lc 1,54s; Heb 1,1s). Deus se dá a conhecer (Jo 1,18) , manifesta o seu amor (Rm 8,39), está se realizando a Nova Aliança. Jesus veio por inteiro na sua Missão “ Messiânica” restaurar o que estava corrompido: a Antiga Aliança do Pai. Muitos foram os desafios enfrentados por Jesus, o mundo outra vez está mergulhado nas trevas, mas sendo ELE depositário, revestido da autoridade do Pai, não se intimida ante as autoridades judaicas, reivindica  sua qualidade de “Filho do Homem” (Mt 26,63p). Diante da autoridade política, mantém-se sereno, chega a reconhecer a competência de César (Mt 22, 21p), sem fechar os olhos às injustiças dos “representantes da autoridade”  (Mt 20, 25; Lc 13,32). Em frente a Pilatos não discute seu poder de origem divina, mas  põe em relevo a iniquidade de que é vitima ( Jo 19,11) e reivindica sua própria realeza que não é deste mundo (Jo 18,36).
Jesus não é simplesmente um sábio de grande experiência; é aquele que vive plenamente a  bem-aventurança que propõe ( Mt 5,3-12) a plenitude da felicidade cristã, e em Lc 6, 20-26 são acopladas com verificações de desgraça, encominando o valor superior de certas condições de vida. O ser manso e humilde de coração (Mt 11, 29) é realizado em Jesus como sua profunda aspiração de felicidade.
            Em Jesus o Céu está presente na terra, é neste Reino que  a mensagem do AT desmascara a idolatria, revela a dimensão do ágape e a vida futura descobrindo toda a loucura do cobiçoso (Lc 12,13-15).
            Sua pedagogia é a educação da Fé, é no cotidiano  que Jesus  dá seu ensinamento, confessa que é o Cristo e modifica comportamentos (Mt16,21). Leva seus contemporâneos  a identificar sua pessoa e o Reino anunciado ( Mt 4,17), suscita questionamentos a seu respeito através dos ensinamentos dado com autoridade (Mt 7,28s;  Mc 1,27) e  por seus milagres (Mt8,27; Lc 4,36); ministra seus ensinamentos conforme os ouvintes que o acolhem (Mt 13, 10-13.36), até que tenham compreendido (Mt 13,51).  Faz os discípulos realizarem a própria impotência e tira dos pães a lição do entendimento (Mt 14,15-21; 16,8-12), fazendo-os prestar contas do trabalho efetuado (Mc 6,30; Lc 10, 17). quando é reconhecido revela seu mistério, lamentando a falta de Fé dos seus discípulos, mas justifica seu fracasso (Lc17,19s) causado pela inveja do grupinho (Lc 20,24-28), mantendo sua postura de educador, sempre com lições de Amor.
Contudo ELE aparece às massas como um Doutor, ensinando nas sinagogas (Mt 4,23p; Jo 6, 59), no templo (Mt 21,23p; Jo 7,14), por ocasião da festas (Jo 8,20). Cotidianamente (Mt 26,25), fala e age como profeta, ou ainda apresenta-se como interprete autorizado da Lei, sendo que a leva à perfeição (Mt 5,17).
            O grande segredo de sua atitude está na diferença dos doutores oficialmente habilitados, só  diz o que o Pai lhe ensina ( Jo 8,28) segundo a ordem dos profetas, torna-se dócil ao ensinamento de Deus ( Jo 6,44s). Escatologicamente Jesus sendo o próprio sinal de contradição, quer realiza a aliança em torno dos pobres e pequeninos (Mt 10,42),  o elo de união mais precioso que tudo, é a fé n’Ele  (At 19,4; Jo 1,7) . Essa Fé que vem de Deus (Mt 11,25p; 16,17) é partilhado pelas nações ( Mt 8, 5-13p; 12, 38- 42p).    As profecias do AT se cumprem em Cristo Jesus.
            Jesus Cristo é igualmente o novo Templo. Depois de Jeremias (Jr 7,12-15), Jesus profetiza a destruição do edifício magnífico, orgulho de Israel, que se tornou um  “antro de ladrões”  (Jr 7,11; Mt 21,12) e a restauração em três dias. Em Jo 2,19-22  fala de sua morte e ressurreição, onde o templo é seu próprio corpo que ressuscitará ao terceiro dia de sua paixão e morte na cruz.
            Na sua missão profética Jesus  além de denunciar os erros de seus contemporâneos,  adverte  contra os falsos profetas , prevê o final dos  tempos ( Mt 24, 5 .11. 24), e a sua vitória sobre o Anticristo e os falsos profetas, que serão atirados ao fogo (Ap 19,20; 20,3.10).
            Constata-se que as situações de crise não somente econômica e política são também culturais, provocando uma releitura das promessas que tem a ver com o fim do mundo e o advento do novo mundo, em que as grupos agora marginalizados, oprimidos, perseguidos, “únicos fiéis a Deus”, serão salvos pelo Filho do Homem, que revela o que vai acontecer e que as promessas do Pai realmente se realizarão.
            Na busca dessa compreensão, os dias atuais em que o mundo com sua era tecnológica e globalizada, não tem como desconsiderar a visível atuação de Jesus Cristo através do seu Espírito Santo bem atuante na Igreja e em meio ao Povo escolhido de Javé.
            Mudaram os tempos, mas as situações são as mesmas:
·         As tensões internas da tradição doutrinal da cristologia (generalização antropológica)
·         As pesquisas histórica sobre Jesus ( investigação histórica);
·         O fato de que é o próprio Jesus histórico que impede a manipulação de significação de Jesus em uma cristologia abstrata e alienante;
Jesus é o testemunho de Fé. Por seu exemplo, se abre a possibilidade de fazer o que ELE fez. A liberdade que Jesus assumiu com autoridade, e a liberdade que ele deu com autoridade estão intimamente unidas a todos os tempos.




                                                           Marrgarida Maria Viana Sales
                                                      Teologa/Psicopedagoga/Porfa.História
                                                                                 2010

A ATUAÇÃO PROFÉTICA DE JESUS CRISTO

           A pregação de Jesus (= anúncio do Reino) nos remete a  reencontrar o Jesus da História e compreender sua história e o contexto em que realiza sua missão profética messiânica.
            Não é interessante ter como ponto de partida a análise da situação sócio-econômica - política e religiosa da Palestina em sua época, mas sobretudo ter como referência básica a compreensão de sua prática profética como uma orientação para a vida  cristã.
Como toda prática humana, a de Jesus não representa um começo absoluto, pois teve de intervir em um campo minado por conflitos já existente integrando-se a um conjunto social bem amplo presentes em seu tempo. Jesus é uma pessoa inserida na realidade social do seu tempo vivida por um povo oprimido e de tamanha miséria ( Mt 9, 36). Jesus se encarnou por causa do Reino, foi perseguido e morto por causa do Reino.
            Tomamos por referência  a luta e o movimento popular do qual fazia parte: o perdão das dívidas (Mc 1,4.15); a retomada do ano jubilar, o ano da Graça do Senhor  (Lc 4, 19); a questão da terra que se tornou propriedade Romana, e o anúncio do Reino aos pobres (Lc 4,18; Mt 11, 15;Lc 1,46-56) e o próprio sistema que excluia os pobres da salvação, pois eram  tidos como impuros (Mc 7, 1-23; Jo 7, 49).
            Jesus sofre com os seus e toma como conseqüência prática:  perseguição e morte.
            Em torno de Jesus aparece por assim dizer um profetismo representado por Zacarias (Lc 1,67); Simeão (Lc 2, 25ss); a profetiza Ana (Lc2,36) e sobretudo  João Batista, sua presença se fez necessária para que se sentisse a diferença profética de Jesus Cristo.
            Todos os profetas de outrora traduzem a Lei vivida ( Mt 14,4; Lc 3, 11-14) e o anúncio da ira e da salvação se distinguem profeticamente (Mt 3, 2.8) e se dá a conhecer distintamente (Jo 1, 26. 31).
            Pelo contexto dos Evangelhos e os escritos neo-testamentários tem como ponto de partida o memorável acontecimento: o nascimento de Jesus.
            Com efeito e certeza dos Evangelhos de  Mt 2,1-15 e de Lc 1,5 que Jesus nasceu antes da morte de Herodes , o Grande, que pela História profana, caiu no inicio dos anos 750 de Roma, que corresponde ao  4º. da Era Vulgar. No ano precedente (indicado -5), se deu o nascimento de Cristo, embora não seja certo quantos meses se passaram da morte do tirano. Outra incerteza  é a duração da vida  pública de Jesus. A opinião que mais respeita os dados do texto evangélico é a que é fixada em dois anos e alguns meses. A esta atemo-nos ao seguinte quadro:

Ano
Acontecimentos
 Evangelhos
  -5
Nascimento de Jesus Cristo
Mt 2,1; Lc 2, 1-7

+ 8
Jesus perdido e encontrado no templo aos doze anos

Lc 2, 41-51

     28
Pregação de João Batista
Lc 3, 1-3
Batismo de Jesus e inicio de sua vida pública
Mt 3, 13-4, 17 e paralelos

    30
Paixão, morte e ressurreição de Jesus, com a descida do Espírito Santo, começa a pregação dos Apóstolos e constitui-se a Igreja primitiva
Mt 26,47-75; 27,1-66; 28,1-20; Atos, 2,1-4
(Mc e Lc)


No período de 4 a.C a 6 d.C, a Palestina vive   um  de extremo momento de violência, foram dez anos de revolta, de repressão, de massacres. No mesmo ano em que Arquelau se apresentou pela primeira vez , na Páscoa do ano 4 e provocou o massacre de 3.000 pessoas. Outras revoltas, como a de Séforis ocasionou a crucifixão de 2.000 rebeldes ao redor de Jerusalém, repressão brutal. È nesse contexto que nasce o movimento dos zelotas com forte espírito de rejeição aos romanos, com  resistência ao Império até a tomada de Jerusalém por Tito e a destruição do templo.
É nesse contexto  social de muita violência que nasce  e cresce Jesus Cristo e como todo judeu inicia-se em uma profissão, a de carpinteiro como seu pai José. ( Lc 2,52;  Mc 6, 1-6).
            Sob o império de César Augustus, por conta do recenseamento Jesus nasce  em Belém da Judéia, situada a 9 Km ao sul de Jerusalém, e para que se cumprissem as escrituras , Jesus nasce em uma manjedoura (estrebaria), após  uma longa caminhada de seus pais: José e Maria, da Galiléia até a Judéia (Lc 2, 1-7 ).
Jesus inicia seu ministério  público no momento em que o reino de Herodes o Grande, se divide. No décimo quinto ano de Tibério e morte de Augusto ( 19 de agosto de 767 de Roma = 14 d. C).
Jesus como o profeta do NT tem como missão exortar, edificar, consolar, se reduz à comunidade e sofre com a mesma. Renova os ensinamentos dos profetas revelando aos homens que Deus é deles Pai; devem pedir-lhes simplesmente: “Pai nosso, dá-nos hoje...” (Mt 6,11) “e que não se inquietem com o amanhã, nem tenham temores pela sua vida...” (Mt¨6,25-34; 10,28-31; Lc 6,34;12,22 – 32;21,18).
             O Messias  prometido inicia sua pregação pelo anúncio do Reino ( Mt 4, 23) e “a seguir, percorrendo  toda a Galiléia, ele ensinava em  suas sinagogas, proclamava a Boa Nova do Reino e curava toda doenças e enfermidades entre o povo”; as Bem-aventuranças  que ele prometeu aos pobres  e aos perseguidos, objeto de sua vinda (Mt 5,3-10; Lc 6, 20.23) , retoma por sua conta todas  as promessas do AT, promessas dum povo e duma terra, dum Reino, que ainda não cumpriu, por não ter chegado a hora, mas quem nele crer já o terá encontrado. (Jo 1,41.45).
            A grande promessa do Pai ( Lc 24,49), o Espírito Santo será dado por Jesus Cristo quando completar sua obra sobre a terra (Jo 17, 4), amar até o fim (Jo 13,1) dar seu corpo e seu sangue ( Lc 19, 30). Jesus  é Servo, Cordeiro de Deus. Carregando sobre a cruz pecados dos homens, ele transforma a tentação da blasfêmia em queixa filial e a absurda morte em Ressurreição (Mt 27, 46; Lc 23,46; Fp 2,8s)
            Enfim a última etapa de sua missão deverá abrir-se a última tentação e  agonia (Lc 22,20.46) vencendo o tentador até o fim (Lc 4,13), dando à humanidade a grande oportunidade de engajar-se na mais pura e verdadeira condição de filhos de Deus pela vocação filial (Lc 2,10-18).
            Em seu conteúdo messiânico, Jesus se utiliza da Lei: AT – para universalizar os mandamentos consagrando o mandamento  do AMOR: “Amarás aos outros mandamentos neste, senão  próximo como a ti mesmo”, ELE não só concentra os outros que o liga indissoluvelmente ao mandamento do Amor de Deus” (Mt 22,34-40p) e ainda especifica que deve-se amar aos adversários, e não só aos amigos (Mt.5,43-48)  quebrando assim pelo amor, todas as barreiras para atingir o próprio inimigo.
            Durante sua vida Jesus se apresenta a seus contemporâneos sob aparências  complexas : “profeta de penitência, mas, mais que profeta (Mt 12,41); “messias”, mas que deve passar pelo sofrimento do “Servo de Javé, antes de conhecer a glória do Filho do Homem” (Mc 8, 29ss); doutor mas não à maneira dos escribas ( Mc 1,21s).
Jesus mostra a responsabilidade de Jerusalém: os profetas de outrora foram assassinados, ele próprio será entregue, seus enviados também serão mortos.  O juízo de Deus só pode ser severo contra a cidade culpada: todo sangue inocente derramado aqui na terra desde o sangue de Abel recairá sobre esta geração ( Mt 23, 29-36). Judas (Mt 27,4) e Pilatos ( Mt 27, 24s) reconhecem que entregaram o sangue inocente mas não assumem a responsabilidade.
            No texto sobre o imposto de César (Mt 12,13-17) são grandes as controvérsias messiânicas (Mc 11,15-22,44), a atitude de Jesus é em defesa da terra (Mc 1,4; Lc 4,18-19) da soberania do povo e do nome de Javé. A terra é de Deus, portanto é do povo e não de César. Poderia ter feito de forma adversa do que fez, mostrando que não deveria pagar o tributo a César, pois assim está reconhecendo-o como deus e negando a divindade de Javé. Mas Jesus orienta-os dizendo: “daí a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus.” (Mc 12, 13 – 17)
            Um outro ponto importantíssimo é no caso do templo, como a lógica era a carga do sistema tributário, recaia sobre o povo a maior parte do pagamento de impostos ao Estado. romano e ao Templo (Mc 17,24-27)  que chegava a 60% da produção, razão esta  pela qual a população era tão pobre, e ainda a obrigatoriedade do dízimo dos pobres, para a manutenção dos sacerdotes levitas, motivo este para causa de muitas revoltas e de perseguição de todos que assumissem a defesa dos excluídos como é o caso de Jesus Cristo.
É neste contexto que entendemos a prática de Jesus, que se posiciona  contra as tradições criadas pelos homens para benefício próprio, e não como vontade de Deus (Mc 2,23-28; 7, 1-23) “ O homem não é para o sábado, mas o sábado é para o homem”. Se o homem fosse para o sábado, ocorreria um sacrifício humano a um ídolo que se chama sábado”.
A prática de Jesus, relatada pelas controvérsias sobre a Lei (Mc 2,1-3,6), revela seu confronto com as autoridades de seu tempo. Sua prática visa defender a vida, e em vista da vida , toda lei deve ceder. Esta liberdade de Jesus perante a lei, e sua autoridade ao ensinar (Mc 1,22) é que conduz Jesus o enfrentamento final com as autoridades do povo e  é levado à morte. É nestas controvérsias que encontramos  o conteúdo principal de seus textos que revelam sua liberdade polifônica e policrômica  diante da realidade social, diante das autoridades e diante da Lei, assim como sua autoridade, cujo poder advém de sua interação no movimento libertário de seu tempo. Tais atitudes revelam, em profundidade, sua pessoa ( seu ser), como a máxima REVELAÇÃO DE DEUS aos homens – mulheres - pobres, como portador do anúncio do Reino, rejeitado devido à incredulidade ( Jo 1,11).
            O cerne das controvérsias sobre a lei é a defesa da vida. Jesus, demonstra que a vida é dom mais precioso de Deus, a medição fundamental para o encontro com Deus. Por isso a vida está acima da lei. Deus não quer  que a observância do culto impeça a observância do humano, senão exatamente ao contrário. Assim sendo qualquer que seja o atentado contra a vida real dos seres humanos acaba sendo um atentado contra o próprio Deus, e Jesus mostra claramente várias vezes: em Mt 9,13 –“ comida com publicanos; Mt 12,7 -  as espigas arrancadas no sábado. Fazer a vontade do pai é praticar a justiça com os seres humanos, e não a prática do culto Mt 5,23.
            Portanto Jesus é reconhecido pelo povo como profeta (Jo 9,17; Mt 16,14; 21,11,46; Mc 6,15; Lc 7,16. 39; Jo 4,19) Era considerado líder popular,  aparece como a continuidade da linha profética de Israel, com o mesmo destino dos profetas, o martírio, a morte ( Lc 11,17-51; 13,34;Mt 23,37). Podemos tomar Jesus como testemunho fiel do Reino, aquele que por coerência, não se desviou do caminho (Mc 8, 27-11,8;Lc 9,51), mesmo que tentado pelas mais terríveis tentações (Mc 1,12-13; Mt 4,1-11; Lc 4,1-13; Mc 8,32; Jo 11,7-10). É o Jesus  profeta que fala até o fim sem medo, tornando-se perigoso para os perseguidores, seu testemunho provoca a perseguição e a morte de suas testemunhas por ser fiel ao Pai. ( Mc 12,12); Jo 7,30-44; 10,39; Mc 3,6; 11,18; Lc 4, 28-30; Jo 5,18; 8,59; 10,31; Mc 14,1-2. Sua principal missão anunciar o Reino de Deus, um Reino de Paz, justiça e solidariedade entre todos os povos..
            A denúncia profética de Jesus Cristo, parte da convicção de que o Deus que libertou Israel do Egito,  que fez a Aliança no Sinai, que acompanhou seu povo no deserto defendendo-o contra todos os perigos e contra os opressores que maquinam uma sociedade injusta gananciosa de poder que emana da corruptível vontade humana, é um Deus que não tolera o sofrimento  do ser humano que o criou para viver e praticar a justiça chegando a perdoar o opressor arrependido.


                                                                       Margarida Maria Viana Sales
                                                                Teologa/Psicopedagoga/Profa.História

REFLEXÃO SOBRE A ATUALIDADE DA PROFECIA CRISTO, NA MEDIDA EM QUE RESPONDE AOS QUESTIONAMENTOS E DESAFIOS QUE A REALIDADE ATUAL LEVANTA À FÉ CRISTÃ

Em Jesus tudo se cumpriu, as promessas e a esperança. Mas nós ainda estamos longe como comunidade de crentes. Podemos ver que as realidade ainda  continuam bem atuantes, a opressão, as injustiças, as tensões histórica, a manipulação do sentido cristológico parece estar em evidência muitos são os martírios que nos levam a questionar mediante aos desafios apresentados à Igreja de Jesus Cristo.
Esse mesmo Jesus Cristo que  é igualmente o novo Templo. Depois de Jeremias cuja profecia da destruição do edifício magnífico, orgulho de Israel, que se tornou um  “antro de ladrões”   e foi   restaurado em três dias, como uma forma de simbolizar que o Jesus o Templo Sagrado do Pai seria morto (destruído) e  restaurado em três dias (ressuscitaria em três dias), (Jo 2,19-22)
            Jesus continua através de Evangelhos escritos pelos apóstolos e a própria praticidade da Igreja a denunciar os erros dos governantes atuais,,  adverte  contra os falsos profetas , prevê o final dos  tempos ( Mt 24, 5 .11. 24), e a sua vitória sobre o Anticristo e os falsos profetas, que serão atirados ao fogo (Ap 19,20; 20,3.10).
            Percebemos que num mundo globalizado as situações de crise são na maioria dos casos de lógics econômica e política como também culturais provocando uma releitura das promessas que tem a ver com o fim do mundo e o advento do novo mundo, em que os grupos agora marginalizados, oprimidos, perseguidos, faltam com sua fidelidade a Deus”, porém já foram salvos pelo Filho do Homem, que se revela através do bem mais precioso deixado para todos os que querem a salvação: a Eucaristia, promessa cumprida do Pai e do próprio Jesus Cristo. Na busca dessa compreensão, os dias atuais em que o mundo com sua era tecnológica e globalizada, não tem como desconsiderar a visível atuação de Jesus Cristo através do seu Espírito Santo bem atuante na Igreja e em meio ao Povo escolhido de Javé.
            São muitos os desafios, seu movimento é essencialmente inclusivo, abrange a sociedade como um todo especialmente os pequenino que vivem em grande miséria. (Mt 25,31-46 (v. 40.45) os últimos da fila à procura de empregos  (Mt20,1-15 (v. 8.12.14) ou os incultos sem formação (Mt 11,25).
            Podemos citar alguns exemplos:
1-Os pobres – os economicamente descartáveis, desinteressante para a produção e o consumo.. Pessoas mal remuneradas, com baixa renda ou sem moradia – os mais necessitados ( Lc 221,1; 2 Cor.9,9)
2. as prostitutas e adúlteras – as mulheres marginalizadas socialmente e moralmente, sem voz e sem vez, e que na atualidade em que vivemos, dois mil anos depois da era cristã, a situação ainda é permanente, a mulher continua sendo espoliada, marginalizada pela casta machista de uma sociedade imanente. (Jo 8,1s; Mtu 21,31-32)
3- Os pecadores e  publicanos -  hoje as pessoas que ficam à margem da sociedade, considerados afastados da casa do Pai, como os divorciados, os filhos de mães solteiras, os gays, as mães solteiras, entre tantos.  Jesus os acolhe. ( Mc 2,15-17par; Lx 7,34; 15,1-2);
4- Os possessos – os estigmatizados socialmente – considerados como possuídos pelo diabo, hoje os chamados marginais, traficantes, assassinos, não só os que matam o corpo, mas existem os que matam a alma, precisam ser exorcizados por Jesus, Mc 5, 15; 7, 35; Lc 11,20).
5- Os samaritanos- são representados pelos estigmatizados por situações religiosas. (Lc 17,11s; 10,25s).
Estes poucos exemplos dá para nos colocar diante de uma reflexão desafiadora  que nos permite compreender o movimento de Jesus na sua essência includente, que ampara, defende e até mesmo enaltece àqueles que correm o maior risco de rejeição, discriminação e exploração social e religiosa. Podemos incorporar ainda os perseguidos (Mt 5, 10-12; os que choram e passam fome (Mt 5,4.6) os forasteiros e nus (Mt 25,38), os enfermos de todos os tipos (Mt 25,39); Mc 1,32-34), as crianças (Mc 9,33-27; 10, 13-16), as mulheres em geral, os leprosos ( Mc 1,32-34s), os gentios (Mt 8, 11-12). Quanto aos perseguidos atualmente, a Igreja é lavada pelo sangue de seus mártires. Desde sempre, o Reino de Deus é  acompanhado de sofrimento, dor,  por aqueles que a exemplo de Jesus toma as dores dos pequenos e oprimidos: Padre Josimo  Morais Tavares, (Março de 1986), entre tantos outros.
            Mediante a tantas situações ,podemos perceber nesse grande líder Jesus Cristo, como é querido pelo povo (Lc 11,27), manso, humilde (Jo 13,14-16), severo ( Mt24,4-33), compassivo (Mc 1,41), homem de oração, Filho de Deus, Messias e profeta ( Lc 24, 19b).
            Ele denunciou muitas coisas, os falsos profetas (Mt 7,15-20); aquele que dá esmola e anuncia o feito ( Mt 6, 2-4); o jejum dos hipócritas (Mt 6, 16);os escribas e fariseus (Mt 23, 1-36); a cidade de Jerusalém ( Mt 23,37; Lc 13, 34-35);Herodes Antipas ( Lc 13,31-33);o Templo de Jerusalém e a instituição religiosa que esse representava (Jo 2,13-21; Mc 13,1-4); os vendilhões do Templo; a discrimanção da mulher.
            Jesus apresenta várias soluções que viabilizam as mudanças nas estruturas sociais do seu tempo e dos tempos que virão, revelou o Reino materno de Deus (Lc 15,3-32):
            - arrepender-se e crer no Evangelho (Mc 1,15);
            - dar esmola e jejuar em segredo ( Mt 6,3-4.17);
            -abandonar-se à Providência ( Mt 6, 25-34);
            - não julgar  ( Mt 7);
            - rezar sempre ( Mt 6, 7-15);
            - cumprir a Lei ( Mt 5, 17-19);
            -curar os enfermos (  Mc 1,32ss)
            - implementar o reino de Deus ( Mc 1,14)
            - o julgamento final ( Mt 25,31-46)
            - a sua crucifixão como sinal de salvação ( Mc 8, 31-33);
- ter cuidado com as riquezas ( Mc 10, 23-27)
- despertar a consciência adormecida do povo, em relação aos fariseus, escribas, saduceus, Herodes, César (Mc 8,15; 12,38-40;Lc 13,31-32; Mt 7,15-20);
            - dar testemunho do Evangelho perante governadores e reis ( Mc 13,0-10);
- ter uma mística revolucionária ( Mt 5 1-12, );
- a destruição de Jerusalém ( Mc 13, 14-23);
- a destruição do Templo de Jerusalém ( Mc 13,1-3);
- fazer todos discípulos seus ( Mt 28, 19-20).
É notório  que a pessoa cristã  possui uma escala de valores norteada por dois princípios  fundamentais : o primeiro princípio: a) a fidelidade a Deus e combate a toda espécie  de idolatria , e b) a amor ao próximo e combater a tudo que lhe possa ser prejudicial ou desonrar a dignidade que lhe foi atribuída por Deus (Mc 12,28-34; Rm 13,8-10). O segundo principio se desdobra em dois sub-princípios:  como defesa da vida ( Mc 3,1-6; Jo  10,10), da verdade ( Jo  18,37), da igualdade, da  partilha, etc.  O exercício da cidadania materializa-se numa espiritualidade opositora ao projeto de  uma nova sociedade solidária, disposta a custo de perdas, perseguições e da própria vida (Mc 9,34-37; Mt 5, 10-12). O próprio exercício da cidadania é ver o mundo em sua realidade pelas lentes da Fé e com os raios da solidariedade de Cristo, renunciando as alianças baratas de grupos partidários políticos e governamentais
Trazendo para a realidade atual podemos dizer que a prática de Jesus ao defender a vida sobre o culto e a propriedade (Mc 2, 23-28), ao apresentar a Deus como o Deus da vida, estaria orientando que a sociedade  de hoje se organize a favor da vida  em especial pela vida dos pobres.
A experiência de Jesus Cristo é esclarecedora para todos os tempos, provoca a mudança de prática, a conversão através de seus ensinamentos que só ocorre a medida em que as pessoas estão dispostas a arcar com as perdas predispostas para certas renúncias ( Mc 8, 34-37; 10,28-29).
Esse mesmo Jesus obediente  ao Pai, e com  os mesmos objetivos salvífico e na condição de Filho de  Deus, sucede aos profetas como o último mensageiro de Deus, movido pelo Espírito Santo de Deus confirmando sua ação profética proferida: “O Espírito  do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4,18-19), apresenta soluções para um Reino de justiça, paz e liberdade e a esperança de  um novo tempo eternizado em  todos aqueles que Nele acreditam.
As perspectivas salvíficas estão fundamentadas  e bem detalhadas no Novo Testamento e nas realidades  que se apresentam na própria Palavra do Verbo que se fez carne e habitou entre nós, criando algo novo cujas exigências estão no compromisso visível realizado em Jesus Cristo,o Filho de Deus vivo, esse profeta messias que tem a função de juiz, o rei dos judeus, aquele que participa da realeza de Deus e que tem poder sobre os demônios e todos os elementos. Sobre ele os céus se abriram: ele que recebeu a sabedoria e a revelação de Deus, o Espírito Santo de Deus, com a condição de se manifestar de fato, em mensagens, palavras e ações, como o “verdadeiro profeta dos últimos dias” e anuncia a boa nova para a salvação dos oprimidos.


                                                           Margarida Maria Viana Sales
                                                     Teologa/Psicopedagoga/Profa. História